segunda-feira, 6 de agosto de 2012

Um festival de rock no verão europeu: algumas impressões

Já nem lembrava que tenho um blog. E só lembrei porque fiquei como uma vontade louca de escrever algo sobre minha primeira experiência num festival de rock na Europa. Fui aos quatro dias do FIB, o maior festival da Espanha, em Benicàssim, na costa leste do país.
Cara, é demais! E olha que há festivais maiores no verão europeu, como Glastonbury e Reading. Mas que fique claro que festival de rock, principalmente os que têm vários dias seguidos, não é coisa para fracos. Só pode gostar quem: 1) curte muito rock; e 2) está disposto a encarar todo tipo de roubada em nome do bom e velho rock and roll. Se você não se encaixa nesse perfil, nem vá, ou escolha um dia e fique pouco, porque não vai curtir.
A edição de 2012 do FIB, pelo que fiquei sabendo sobre anos anteriores, foi mais pop do que costuma ser. Nada comparado a um Rock in Rio da vida, mas rolaram atrações descartáveis, como Jessie J e Ed Sheeran, fenômenos pop do momento em terras britânicas. Ao mesmo tempo, as atrações principais de três dias foram artistas, gostem deles ou não, de grandeza e qualidade inquestionáveis: Bob Dylan, The Stone Roses e New Order.
Outra novidade foi o predomínio absoluto dos britânicos, sobretudo ingleses, entre o público. O FIB já é atraente para eles porque rola na Espanha e numa cidade em que se pode ficar o dia todo na praia antes de ver os shows, com uma necessidade mínima de se deslocar. E para aumentar a proporção de britânicos, a crise brutal na Espanha fez com que muitos espanhóis tenham deixado de ir ao festival.
Com todas as introduções (sem duplo sentido) já feitas, vamos passar às impressões. A primeira e mais marcante para mim é que os ingleses são muuuuito roqueiros! Está no sangue dos caras. Isso só me faz admirá-los mais, como um grande fã que já sou da música feita por lá.
Eles também são muuuuito loucos! Estar cercado por hordas de ingleses embriagados durante quatro dias é divertido, mas fica tenso em vários momentos, porque você nunca sabe o que pode acontecer. Ao mesmo tempo em que rodas de pogo se abrem a toda hora (ei, isso é divertido para mim) e você pode dividi-las com eles numa boa, pode encostar um brucutu nas suas costas e começar a berrar e cuspir, não necessariamente nessa ordem, as letras das músicas que você quer tentar escutar.
E ainda no capítulo como é a vida com os ingleses num festival de rock, achei que eles são um pouco assexuados. Para nós, brasileiros, a ideia de festa envolve, preferencialmente, beijar e transar, sem nenhum estereótipo tirado do axé ou do sertanejo universitário. Nós sabemos que é assim. Para os ingleses, a ideia de festa envolve, preferencialmente, encher a cara e escutar rock. Se rolar algo mais, beleza, mas não é isso que eles buscam.
No quesito moda, notei duas tendências entre os ingleses no FIB. Para os homens, o sujo chique: quanto mais sujos o tênis e a roupa, mais legal.  E não é assim lá pelo fim da noite. Os caras já chegam sujos. Para as mulheres, o Bob Esponja calça quadrada. Se você ver um short jeans quadrado e na altura do umbigo, pode estar certo que tem uma inglesa dentro.
Musicalmente falando, o FIB foi rico. Em três palcos, vi artistas de estilos variados que conhecia pouco ou nada e que me impressionaram, como Lisa Hannigan, Disappears, The Maccabees, Delorentos, Ham Sandwich, Spector e The Antlers. Das atrações mais conhecidas, também foram vários shows de primeira, como os que fizeram The Horrors, At the Drive-In, Bob Dylan, Bombay Bicycle Club, The Stone Roses, Buzzcocks, The Vaccines e New Order. O que senti falta foi de um pouco mais de melancolia. Ao menos, havia The Antlers para representar bem o estilo.
Em termos de logística, tudo funciona bem. São oferecidas duas áreas de camping, uma gratuita, para todo mundo que tem ingresso, e outra paga, com uma estrutura bastante razoável. Dentro do espaço para os shows, há uma infinidade de opções de comida, todas pagas nas próprias barracas. Ninguém é obrigado, portanto, a comer sanduíche de microondas pagando o olho da cara. A cerveja é Heineken! E para quem prefere destilados, há barracas só de drinks, como diria meu amigo Pão com Molho, que viram baladas a parte, de tanta gente que se acumula para beber.
A nota ruim é sobre a divulgação da programação. Com tantos palcos e atrações, é impossível não se perder. Apesar disso, o FIB não oferece guias gratuitamente. Ao contrário, cobra caro por eles. Quem quiser um precisa pagar 7 euros. E ficar esperto para não perder e ter que comprar outro...